domingo, 18 de julho de 2021

QUEM ESTÁ JOGANDO COM O FUTURO DE JAIR BOLSONARO.

 


                 As análises políticas apresentadas pela “grande mídia”, e até mesmo as mídias nem tão grande assim, inclusive as chamadas “mídias de esquerda” são baseadas nos movimentos das personalidades como Bolsonaro e seus asseclas, Omar Aziz, Renan Calheiros e demais membros da CPI da Pandemia, além de membros do STF, Lula e lideranças de esquerdas. Este modo de se informar não da realidade objetiva dos fatos. Uma análise do ponto de vista geopolítico pode nos dá uma melhor noção do que está acontecendo no país. É preciso ter uma visão global e sistêmica do que está acontecendo no Brasil e quis são as tendências.

          Sugiro ler: https://anudezdorei.blogspot.com/2019/07/geopolitica-aos-meus-olhos-i-como.html, https://anudezdorei.blogspot.com/2019/07/geopolitica-aos-meus-olhos-ii-como-e-o.html, https://anudezdorei.blogspot.com/2019/08/geopolitica-aos-meus-olhos-iii-como-o.html

Existem muitos interesses de grupos com relação às eleições gerais no Brasil em 2022. Nosso país é mais importante para a geopolítica mundial do que pensamos nós mesmos, brasileiros. Somos a maior economia do hemisfério sul, com enorme influencia em toda América Latina e África Ocidental. Somos o quinto maior território do mundo, com grande margem para expansão agrícola, e somos a sétima população mundial, com grande potencial de consumo e fornecimento de mão de obra. Desta forma, as eleições gerais no Brasil estão na pauta de diversas forças no mundo (todas difusas, é claro) como a oligarquia financeira internacional, o “Deep State” (estado profundo que defende a ideia da “América para os americanos”) norte-americano, os atlanticistas (que defende os interesses dos países do Atlântico Norte), a “Nova Rota da Seda” (liderada pelos interesses chineses, russos e iranianos, entre outros, com o objetivo de formar a “grande Eurásia”, ou seja, trazer a Europa para os interesses econômicos asiáticos, se distanciando dos Estados Unidos). Lembrando que estas divisões de correlação de forças mundial são artificiais.

          No Brasil participam deste cabo de guerra, os ruralistas de um lado, trabalhadores rurais e produtores familiares de outro. Os grandes capitalistas na área da indústria, financeira e de serviços, além de grandes investidores (especuladores) de um lado e os trabalhadores de outro.
          O capitalismo pode ser simplificado no paradigma, tudo é negócio, tudo é mercadoria. Se formos tomar o sistema capitalista no mundo como uma só entidade, podemos inferir que cada país é uma grande empresa, com seus conselhos (deliberativo, fiscal, etc.) e sua diretoria, sendo que o presidente da república é a figura que gerencia os negócios. Deste modo, mesmo governos de esquerdas como os de Lula e Dilma no Brasil, todas as deliberações tinham como objetivo fortalecer o sistema burguês no Brasil e no mundo. Todo governo em países capitalistas são sempre apoiados por setores da burguesia, mesmo que não haja consenso. Quando um governo vai de encontro às classes dominantes, estes são sumariamente golpeados, como aconteceu com Dilma Rousseff. Em 2018 amplos setores das classes hegemônicas (nem tosos) não queriam a volta do PT à presidência do Brasil. Havia uma extensa pauta entreguista a cumprir, principalmente para beneficiar o decadente capital norte-americano. Na impossibilidade de eleger um candidato visceralmente comprometido com uma agenda entreguista, optou-se por Bolsonaro e seu economista sofrível (até para o sistema) Paulo Guedes.

          Abro parêntesis para dizer que todos os governos nas democracias burgueses são corruptos por definição. Se 99% da população de um país é formado por trabalhadores e pequenos empreendedores, então por que os governos, invariavelmente, governam para os outros 1%. Oportunamente escreverei sobre este assunto com mais detalhes.

          Acontece que Bolsonaro é uma representante do lumpesinato, e estes ascenderam ao poder. Não está fácil a burguesia administrar um Brasil, dividindo o poder com interesses de milicianos e outras excrescências que sempre viveram à margem da sociedade. Em 2022 há duas grandes vertentes: Bolsonaro de novo ou Lula de novo. A um ano das eleições ainda não existe como viabilizar outras opções. Como mexer as peças neste xadrez?

      Se voltarem a prender Lula ou este vier a faltar haverá nova polarização Haddad x Bolsonaro. Se fizerem o impeachment do atual presidente, Lula pode vencer no primeiro turno. A melhor aposta é fazer a popularidade de Jair Bolsonaro cair a ponto de nem chegar ao segundo turno. Desta forma uma terceira via seria possível. Talvez seja este o jogo de Ciro Gomes, que pretende chegar ao segundo turno e vencer com os votos bolsonaristas. De outro lado o sistema quer negociar com Lula algumas concessões em troca de uma mandato tranquilo, fechando com chave de ouro seu currículo de maior estadista do Brasil de todos os tempos.

 

         
 




quinta-feira, 29 de abril de 2021

O QUE HÁ POR TRÁS DA REJEIÇÃO DO SPUTNIK-5 PELA ANVISA

 


            Eu poderia começar com a notícia de que a Comunidade Europeia está analisando a liberação da vacina russa, cujo resultado está previsto para a próxima semana (primeira semana de maio). Mas acho que é melhor começar explicando como é feita a vacina Spuntik-5. Segundo a revista russa homônima (também se chama Sputnik), a vacina foi feita com a seguinte tecnologia:

            - Pegou-se um vírus denominado adenovírus, que provoca uma doença semelhante à gripe em humanos.

- Através de engenharia genética, foram retirados todos os genes que pudesse apresentar sintomas ou reações nas pessoas.

- Deste modo todas as pessoas que contraíssem este vírus seriam assintomáticas.

- Este adenovírus já havia sido feito há mais de dez anos, sendo que muitas vezes foram testados em animais e humanos, não havendo nenhuma dúvida quanto a sua segurança quanto à patogenicidade.

- Através de engenharia genética foram colocados dois genes do Covid-19 no genoma do referido adenovírus.

- Trata-se de uma vacina transgênica. Mas hoje em dia muitos medicamentos são obtidos através de transgênicos. Quase a totalidade da insulina usada no mundo é obtida através de transgenia.

Abro parêntesis para dizer que tenho autoridade para contestar os “especialistas” que fizeram o laudo para a ANVISA. Não chego a ser leigo no assunto, pois sou especialista em genética vegetal e tenho algum conhecimento sobre biologia molecular.

Eu concordo com os especialistas da ANVISA quando dizem que a Vacina Sputnik-5 possui adenovírus replicante (replicante é uma palavra para substituir a palavra “vivo”, pois para alguns autores os vírus não são seres vivos). E é exatamente aí que mora toda a eficiência da Sputnik-5 como vacina. Como apresenta um nível de “infecção” 100% assintomática as pessoas não tem nenhuma reação à vacina. Por outro lado estimula o sistema imunológico a criar anticorpos contra duas (e não apenas um, como na maioria das vacinas) proteínas virais do Covid-19.

Existe outra coisa que é necessário esclarecer. Esta vacina não é nova. Inclusive anterior a Covid-19. A Sputnik-5 foi feita em cima da “plataforma” utilizada na vacina contra o Coronavírus do Camelo, que apareceu na Arábia Saudita em 2014. Esta doença provocava 35% de letalidade, porém só era transmitida do camelo para o ser humano. Por este motivo a vacina russa foi a primeira a ser aprovada para vacinação.

Depois destas explicações e esclarecimentos faz-se necessário escrever sobre as vantagens da vacina Sputnik-5.

- É bastante segura, sendo aprovada até o momento por sessenta e um países, entre eles Argentina, México e Hungria. Os alemães manifestaram interesse, mas decidiram esperar a Comunidade Europeia para fechar um acordo.

- Como já disse, praticamente não apresenta efeitos colaterais. Estudos tem demonstrado que, entre as vacinas mais difundidas, é a que apresenta menor reação.

- É muito barata e necessita pouca tecnologia na fabricação. Sendo assim os laboratórios não precisam ser sofisticados e altamente tecnificados para produzir.

Espero que eu tenha sido esclarecedor. Se acharem interessante divulguem!

A rejeição da vacina Sputnik 5 pela ANVISA é no mínimo suspeita. Uma hipótese plausível é a pressão de lobby de autoridades americanas visando a não aprovação da vacina russa na Europa.


terça-feira, 27 de abril de 2021

PORQUE CIRO ESTÁ POLITICAMANTE MORTO

 


            Quando fazemos uma análise política, existem tantas variáveis que dificilmente pode-se fazer uma afirmação em tempo presente, que dirá no futuro. Porém podemos prever, com certeza, que Ciro Gomes fará uma campanha presidencial pífia e 2022. Isto se ele for candidato.

            Ciro costurou com muita maestria um plano para ser eleito presidente em 2018. Já no final de 2014 conseguiu de Lula o apoio à sua futura candidatura. Lula sabia que a reeleição de Dilma Rousseff foi um milagre e que em 2018, salvo se houvesse um acidente na história do país, o PT emplacaria um novo presidente. A única possibilidade seria o próprio Luiz Inácio tentar uma nova reeleição. Porém depois de dois mandatos bem sucedidos porque arriscar sua biografia com um novo mandato? Não seria mais fácil fazer como FHC, coordenando a política por trás dos bastidores?

            Ciro, um político muito inteligente e experiente foi bem até 2018, quando aconteceu um fato novo. Lula foi preso no processo do tríplex. Como se tratava de lawfare, ou seja, uso político do sistema judiciário, o presidente assim como o PT na figura de seus dirigentes, deputados, senadores, governadores de estados tentava reverter a prisão através da política. Vozes dentro do Partido dos trabalhadores pediam a candidatura de Lula a presidente. Políticos de outros partidos apoiavam. Outros ofereciam apoio através de barganha. Dentre eles estava Carlos Lupi, presidente nacional do PDT.

            Lula chamou Lupi e Ciro para uma visita à Polícia Federal de Curitiba. Lupi foi só e ouviu a proposta do Luiz Inácio: Lula presidente, Ciro vice. Foi neste ponto que Ciro Gomes jogou errado. Não sei o que passou na cabeça do Governador Cearense. O mais provável era (como foi) que não permitiriam Lula ser candidato. Porém ter seu nome vinculado ao ex Presidente e ao PT poderia ser fatal. Ciro apostou em uma candidatura solo, apostando numa decepção do povo em relação ao PT. Deu errado! A partir daí um político inteligente e experiente se perdeu de vez. Quanto mais tenta se afastar o Lula e do PT mais se perde.

            Ciro não teve e nem tem a humildade de perceber, que, pelo menos nas eleições de 2022, nenhum candidato de esquerda não vence sem o apoio do PT. Porque não esperar até 2026? Como candidato a senador ele pode vencer com facilidade em 2022.

            Agora esmiuçar tudo em um raciocínio lógico.

            Se Lula e Bolsonaro forem candidatos, Ciro Gomes, assim como todos os outros candidatos, será apena figurante já que haverá polarização entre o ex e o atual presidente.

            Se Lula por algum motivo não participar o PT não apoiará logicamente Ciro Gomes. O PT poderia apoiar Flávio Dino, porém sua legenda, PCdoB é ingrata, na atual conjuntura. O mais provável é que lance um candidato próprio, mais precisamente Fernando Haddad. Agora mais conhecido do eleitorado ele terá como fazer frente ao Bolsonaro. De novo haverá uma nítida polarização entre Haddad e o Atual Presidente, agora de forma ainda mais contundente.

            Outra possibilidade é Bolsonaro não disputar. Neste caso Lula disputaria com algum nome da direita. Existem muitos. Ciro não teria condições de captar os eleitores de Bolsonaro devido ao longo período que serviu os governos de esquerda no Brasil.

            Uma última possibilidade seria nem Lula nem Bolsonaro disputar. Neste caso poderia acontecer uma zebra e elegermos uma terceira via? Parece que não! A sociedade brasileira está muito polarizada por um lado, e os agentes políticos da direita e centro-direita, não confiariam em um político titubeante. Ciro Gomes começou como um político conservador, depois passou a ter uma posição desenvolvimentista na “era Lula” para agora voltar ao conservadorismo. Assim não dá!... Assim não pode!...

 


segunda-feira, 26 de abril de 2021

NA VERDADE OS RUSSOS NÃO INVADIRAM A CRIMEIA



           
Eu sinto até preguiça de fazer postagens neste blog. Até parece que eu sou um lunático postando coisas sem sentidos. Agora eu vou tentar mostrar através de um raciocínio lógico que a Rússia não poderia invadir a Crimeia.

            Até a década de trinta do século passado a Crimeia era território russo. Quase totalidade da população era russa, com alguns poucos tártaros e ucranianos. Naquela época a Rússia, a Ucrânia e mais treze repúblicas formavam um imenso país chamado União Soviética. A ligação da Crimeia com o resto da Rússia era feita por via marítima através do Mar Negro. Por outro lado podia-se chegar à Ucrânia por via terrestre. Por uma questão de logística, artificialmente, decidiram anexar a Crimeia ao território Ucraniano.

            Na década de noventa a União Soviética se fragmentou. Agora Rússia e Ucrânia eram países distintos. Inicialmente a Crimeia ficou com a Ucrânia, porém três quartos da população possuíam Carteira de Identidade russa. Isto queria dizer que a grande maioria da população local era estrangeira! Para resolver este problema decidiu-se fazer um plebiscito para decidir se o território seria russo ou ucraniano. Poucos dias antes do referendo houve um golpe de estado na Ucrânia e o novo ditador anulou o plebiscito. Porém a administração na região optou pelo plebiscito. Compareceram mais de 85% da população ativa, sendo que desta, 98% optou pela volta a Rússia. A anexação ocorreu apenas administrativamente, sem nenhuma necessidade de envio de contingentes russos. É verdade que já havia uma base militar russa no local. SE NÃO HOUVE ENVIO DE TROPAS PARA ANEXAR, ENTÃO NÃO HOUVE INVASÃO!

            A Ucrânia não tem potencial bélico para retomar a Crimeia, então o governo golpista passou a hostilizar os cidadãos russos dentro do país. Houve um principio de guerra civil na região de Dombás, de maioria russa. E de tempos em tempos existes ameaças de esquentar o clima na região. Os rebeldes de Dombás querem ser anexada pela Rússia. Porém o país vizinho tem outros planos para eles. Querem que eles continuem parte da Ucrânia, porém elevada à categoria de região autônoma. 

terça-feira, 16 de março de 2021

MUITO ALÉM DA VACINA

 


            Era final de 1962. Havia dois anos que Brasília havia sido inaugurado. Eu, que havia nascido na capital da República, tornei-me um mero provinciano. Havia um surto de difteria no Rio de Janeiro (ou talvez Guanabara). Uma menina da minha rua, filha de um oficial da aeronáutica, contraiu a doença. Minha prima, embora vacinada, também teve uma forma moderada de crupe. Funcionários do Ministério da Saúde apareceram lá em casa e foram logo enfiando cotonetes goela adentro de todos nós. Algo parecido com a coleta de amostra para exame de PCR para Covid-19. Eu era vacinado e não contraí a doença. Mas mesmo assim meu exame deu positivo. Isto significava que embora eu não contraísse difteria, poderia contaminar outras pessoas. Esta experiência eu tive aos dez anos! Tomei vários frascos de soro antidiftérico antes de negativar. Repeti o exame mais duas vezes.

            Passaram-se quase sessenta anos e eu troquei de lado. Deixei de ser paciente para agente. Na qualidade de pesquisador do setor agropecuário, funcionário do Estado do Rio de Janeiro, eu encarei um desafio. Uma nova doença de bananeira entrou no Estado vindo de Parati e entrando em Angra dos Reis. Apesar dos prejuízos a Sigatoka Negra é curável. Bastam duas dúzias de pulverizações aéreas por ano! Pulverizações aéreas em lavouras de bananeiras no Rio de Janeiro? Bananas são produzidas por produtores familiares, em grotas nas regiões montanhosas do Estado! Além de antieconômico, é inviável tecnicamente! A solução foi trazer variedades resistentes. Foram realizados vários ensaios em áreas produtoras do Rio de Janeiro. Inclusive em Angra dos Reis.

            Passaram-se cerca de dois anos, quando recebemos um telefonema desesperado da produtora parceira do ensaio de Angra dos Reis. A Vigilância Sanitária Vegetal visitou sua propriedade e constatou que um bananal, que não fazia parte do experimento, estava infectado com a Sigatoka Negra. A propriedade foi interditada! Ela pedia para nós intercedermos para que pelo menos as bananas provenientes da área experimental pudessem ser comercializadas. Solicitava também autorização para comercializar mudas das variedades resistentes. Eu e o colega Maldonado, colega Pesquisador que me acompanhava no projeto, sabíamos que seria uma luta perdida. Mas por quê?

            Porque as variedades utilizadas eram resistentes e não imune à Sigatoka Negra. E isto fazia toda a diferença! Se as variedades que pretendíamos introduzir fossem imunes, não haveria perigo de contágio para uma planta suscetível. Sendo resistentes as plantas poderiam ser infectadas, porém o sintoma da doença não seria suficiente para diminuir a produtividade das plantas. Porém a possibilidade de transmissão para uma planta suscetível, embora não seja muito grande, mas era bem real.

            Mas porque eu estou contando toda estas histórias? Cada vez mais os brasileiros estão sendo vacinados contra o coronavírus. Mas não há como vacinar todas as pessoas de uma vez. No atual momento algumas pessoas estão vacinadas e outras não. Será que as pessoas que tomaram a segunda dose, e respeitou o período de carência, já podem respirar aliviados e sair para comemorar? Eu queria fazer um alerta:

MESMO VACINADOS TEMOS QUE USAR MÁSCARAS, LAVAR AS MÃOS E DESINTERAR COM ÁLCOOL E RESPEITAR O DISTANCIAMENTO.

            Porém o índice de letalidade das duas vacinas utilizadas por ora no Brasil tente a zero. Ou seja, quem toma a vacina raramente morre de Covid-19. Porém há um detalhe técnico: Sabe-se que a eficiência do Coronavac é por volta de 60%, enquanto a de Oxford/Fiocruz é de 80%. Isto significa que entre quarenta e vinte por cento das pessoas que tomam estas vacinas ainda pode transmitir o vírus.

Moral da história: SE VOCÊ E IDOSO E TOMOU VACINA CONTRA COVID-19 NÃO VAI QUERER “MATAR” SEUS FILHOS, SOBRINHOS E NETOS. DAÍ A NECESSIDADE DE CONTINUAR OS PROCEDIMENTOS QUARENTENÁRIOS.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

SOU ALÉRGICO A ÓDIO.


      Sou alérgico ao ódio. Toda vez que meu coração se encheu de ira, passei literalmente mal. Não tenho inimigos pessoais. Inimigos de classe, sim. Mas quem não os tem? O homem deixa de ser humano quando deixa de se indignar pelas injustiças no mundo! Quando falo “inimigo de classe”, não estou me referindo ao poder formal, mas o poder de fato. Também não sinto ódio pelos políticos profissionais, meros chefetes de um sistema corrupto.

     Por exemplo: Meu pai foi preso e torturado pelo DOI-CODI, órgão de repressão da ditadura militar, em 1975. Um dia me senti questionado. E se hipoteticamente alguém amarrasse um dos torturadores do meu pai, amarrasse em um poste e me desse um porrete? O que eu faria? A resposta veio de um amigo: “largaria o porrete e seguiria meu caminho!” Porque espancar um imbecil atormentado?

   Alguém pode até me questionar. “Você já matou baratas, mosquitos, pulgões e lagartas! Até rato e cobra você já matou!” O fiz por motivos pragmáticos. De alguma forma estes insetos contribuem para a negação da nossa existência. Seja pela doença ou pela fome. Já matei cobras porque tinha medo delas. Hoje me arrependo! Os três ratos que matei até hoje me encheram de remorso. Toda vez que vou cozinhar feijão, penso nas milhares de vidas que morrem na água fervendo. Um quilo de feijão são cinco mil embriões de uma nova planta!

    Nunca me meti em brigas, nem quando criança! Ou resolvo diplomaticamente ou recuo, esperando uma nova oportunidade para ocupar meu espaço. Deus me deu muita inteligência e paciência e estou agradecido por isso! “Quem brigam são os animais, que não pensam!” Dizia minha avó.

  Algumas pessoas me “xingam” de comunista. Outros me aceitam como tal, mas têm outra concepção para a palavra. Tudo questão de semântica! “Ser ou não ser eis a questão!” Vou usar o darwinismo, ciência que domino um pouco mais, para explicar que tipo de sociedade eu gostaria de construir. Mutualismo – todos fornecem aquilo que podem produzir e todos recebem o que necessita. Mas uma sociedade assim seria possível? Na sociedade moderna valoriza-se muito a competição. Será que a competição é mais eficiente na seleção natural que o mutualismo?

  É bom observar que no mutualismo não existe igualdade entre os seres vivos, pois cada um tem suas necessidades e suas potencialidades.

    Mas antes de responder quero falar sobre a relação de amor e ódio entre o predador e a presa. O leão não odeia o búfalo. O leão vê no búfalo uma fonte de alimento para si e para sua família. O búfalo não odeia o Leão. Mas o búfalo mata o leão para proteger a si próprio e ao rebanho. O Leão quando não está com fome vê um búfalo e não deseja sua morte, o mesmo sentimento é compartilhado pelo búfalo em relação ao leão, quando o vê descansando com sua família. O búfalo e o leão não são inimigos pessoais. São “inimigos de classe”!

     Não há como estudar biologia sem conhecer as leis físicas da termodinâmica. A segunda lei é a chamada “entropia”. Todo sistema ordenado tende a se desfazer na unidade do tempo até ficar totalmente desordenado. Para restaurar a ordem é necessária fornecer energia ao sistema. Em um sistema de predação ou parasitismo a entropia acontece mais rápido, já que a vida de um depende da morte ou enfraquecimento do outro. No caso do mutualismo o processo de entropia acontece mais devagar, pois todos aproveitam da energia que sobra no sistema para se desenvolver. Tanto é verdade, que o mutualismo é a forma de associação mais comum entre os seres vivos. Colônias de formigas ou cupins são ecologicamente bem sucedidas em todo o mundo. Em qualquer pedra ou casca de arvore encontra-se liquens, associação entre algas e fungos. Mesmo na cadeia alimentar podemos observar associações positivas: quando um pulgão se alimenta de uma planta, vem uma joaninha se alimenta do pulgão, favorecendo a planta. A joaninha tem seu alimento e a planta se livra da praga. Se todos os leões forem mortos, os búfalos vão destruir toda a pastagem, e acabarão por morrer também. O leão precisa do capim e o capim precisa do leão. Nós humanos não viveríamos sem as bactérias. Existem mais bactérias no nosso organismo que células humanas. Precisamos das bactérias para melhor aproveitar os alimentos que ingerimos. Precisamos de bactérias para nos proteger de patógenos que nos causariam doenças. Vivemos também em uma relação simbiótica com ácaros na nossa pele.

            É preciso muito cuidado ao associar o darwinismo com a sociedade humana. A ascensão do nazismo foi devida, entre outras teorias, o chamado “darwinismo social”. Mas aqui apenas faço um paralelo para mostrar que o sistema capitalista não é ecologicamente sustentável. Vou tratar da espécie humana como um todo, sem nenhuma discriminação. O capitalismo é baseado no consumo. Na “predação” dos recursos naturais. Quanto mais se consome necessita-se mais recursos naturais. Só se recicla o que é viável economicamente. O capitalismo apenas prospera em ambiente de superabundância de recursos. Criam-se sempre novas necessidades, muitas vezes supérfluas. Nenhum bem durável pode ser durável a ponto de saturar o mercado. Tudo um dia tem que ser descartado! Capitalismo e sustentabilidade são como óleo e água. Não se combinam. Porém, no momento, o sistema capitalista é mais eficiente que um sistema “mutualista”. Este é o motivo pelo qual todas as tentativas históricas neste sentido foram frustradas. Ou decretaram falência como na URSS ou tiveram que retroceder como na China.

    É claro que os trabalhadores e pessoas desempregadas têm mais interesse em um sistema onde todos fornecem aquilo que podem produzir e todos recebem o que necessitam. Esta classe social tem menos vantagem em um sistema de economia de mercado e serão elas as primeiras a tentarem mudar seus paradigmas. Por este motivo quem tem ideias “mutualista” deve tratar este grupo social com mais carinho e deverá estar sempre disposto a apoiar suas reinvindicações.

    Em determinado momento histórico, no futuro, o sistema capitalista não terá condições de se auto sustentar. Por falta de matéria prima, a produtividade do trabalho vai começar a cair até um ponto crítico. É obvio que os grandes grupos econômicos farão de tudo para se manterem de pé. Haverá muito desemprego e pouca gente para comprar as mercadorias. Não havendo como abaixar o preço, devido ao alto custo de produção, o sistema entrará em colapso. Será a última de suas crises cíclicas! Neste momento há três possibilidades.

1        1. Uma convulsão social que leve, senão a extinção da espécie humana, um retrocesso de centenas de anos na história.

2       2. Uma mudança de paradigmas conflituosa havendo grandes guerras. Ao contrário das guerras que são programadas pelos poderosos, este conflito acontecerá objetivamente através de uma revolta popular que só terminará com a vitória dos oprimidos. Estes construirão uma nova sociedade. De início não haverá mutualismo. Haverá muitas disputas por hegemonia, os governos serão fracos e autoritários, com muita atrocidade. Com o tempo as coisas vão se acertando e começa a construção de uma nova sociedade. Depois de um processo educativo que levará várias gerações, será possível chegar a uma sociedade com tendências ao mutualismo.

          3. As classes dominantes (os ricos empresários) estarão tão enfraquecidas que se deixarão dominar pacificamente. Alguns capitalistas poderão até fazer acordos com os novos detentores do poder e se adaptará aos novos paradigmas. Nem por isso a ruptura deixará de ser traumática. Haverá de início, muita opressão e autoritarismo. Com o tempo as forças vão se acomodando, de modo que uma democracia social tomará conta de todo o planeta. Como no caso anterior, serão necessárias várias gerações para que se volte a ter abundância e um povo educado a ponto de consumir apenas o que necessita. 

N          Nesta época não haverá  estados ou países conforme conhecemos. Não haverá necessidade de fronteira, exercito e polícia. Nem mesmo cadeia. A população mundial estará tão educada que a pior das punições será o “ostracismo”. As pessoas que errarem será considerado indigno. Mas o perdão virá da autocrítica (aceitar sinceramente a culpa e não apenas prometer não mais voltar a cometer erros). É estar sinceramente comprometido com a reparação. Com a reciclagem quase total dos resíduos, o ser humano não necessitará de tantos recursos quanto hoje. Boa parte do planeta poderá ser reconstituído. Viveremos em uma sociedade global em que cada um cuida de todos e todos cuidam de cada um e do mundo que nos cerca.

Viveremos em um mundo sem ódio. Quem ler o livro de Apocalipse poderá observar a “batalha entre o mal e o bem”, com a vitória deste último. Qualquer semelhança com a saga rumo a uma sociedade “mutualista” não é coincidência. É a realização de um sonho da humanidade, desde a divisão social do trabalho, há dez mil anos. Em uma sociedade “mutualista” não haverá igualdade total entre os homens porque isto seria injusto. Cada pessoa tem suas necessidades. Cada pessoa tem sua capacidade.