sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

RÚSSIA X UCÂNIA - A OTAN VAI PAGAR PARA VER?

    “É preciso combinar com os russos!” Teria dito Mané Garrincha antes de um jogo da Copa do Mundo de 1958.
            A mídia tradicional vem “denunciando” a Rússia por ter anexado a região de Crimeia e de ingerir em assuntos internos da Ucrânia como fazer parte de uma organização militar como a OTAN.  Tudo será analisado por uma nova ótica neste artigo. Mas antes temos que saber se os russos têm cacife para se contrapor os norte-americanos (e, portanto, a OTAN) em termos bélicos. Este assunto é tratado em dois livros de Andrei Martyanov, ex militar soviético e hoje, consultor do Pentágono sobre o tema Rússia.
            Depois da queda da União Soviética, a indústria bélica americana investiu pouco em novas tecnologia, já que não necessitava de muita sofisticação para enfrentar guerras regionais, notadamente no oriente médio. Na última década do século passado, sob o comando de Boris Yeltsin, a Rússia, em crise, tratou de diminuir o potencial bélico. A China estava muito atrás tecnologicamente na produção de armamentos. Não havia razão para a indústria bélica dos Estados Unidos investir em tecnologia.
            Com a chegada de Putin e Medvedev ao poder a Rússia passou a investir em tecnologia bélica de forma que, segundo Martyanov, em vinte anos ultrapassou, e muito, em termos qualitativos, os Estados Unidos. É verdade que os americanos têm muito mais armamentos espalhados em redor do mundo, mas o russos hoje podem atacar os alvos com precisão cirúrgica, sem serem interceptados. Já o sistema de defesa é capaz de rastrear e impedir a entrada de mísseis lançados a 500 km de distância em todo seu território. Em uma guerra de curto prazo os russos levam vantagem sobre os americanos. Embora se esta suposta guerra se prolongar, os ianques recuperam a vantagem.  Ou seja, Washington e Nova Iorque estão bem mais vulneráveis que Moscou e São Petersburgo em um primeiro momento.
            Agora vamos entender por que os russos tomaram a Crimeia. Esta Região Autônoma pertenceu a Rússia até 1962, quando foi transferida para a Ucrânia por questões de proximidade e logística. Este fato foi aceito com muita naturalidade, pois na época em que Nikita Kruchev (bielorrusso, de nascimento) governava, a Rússia e a Ucrânia faziam parte de um só país. A União Soviética. Com o desmembramento da URSS, a Região Autônoma continuou pertencendo a Ucrânia, sendo que três quartos da população era russa. Depois de muito debate marcaram para 2014 um plebiscito para a população da Crimeia decidir a qual país pertenceria.
            Uma semana antes do plebiscito, o presidente ucraniano foi deposto, acusado de corrupção. Parece que era corrupto mesmo, pois até Putin confirmou. O novo governo cancelou o plebiscito, porém o governador da região autônoma autorizou. O comparecimento foi em massa, mais de noventa por cento votaram e destes noventa e seis por cento foram favoráveis a Rússia. A maioria dos ucranianos da Região, portanto, foram favoráveis.
            A Crimeia foi anexada sem nenhuma reação da população. Há uma base militar russa em Sebastopol, capital da Região, que garantiu a anexação. Porém o governo ucraniano tentou reagir, porém encontrou resistência dentro do próprio país, principalmente na região de Donbass. Através de decreto, o ucraniano tornou-se língua oficial e deixou-se de reconhecer a dupla nacionalidade russo-ucraniano. Isto criou revolta no leste do país, pois a maioria da população falava a língua russa e pertencia a esta etnia. Tomou força um grupo separatista que defendem a anexação pela Rússia.
            Para resolver este impasse, reuniram-se em Minsk representantes da Bielorrússia, Ucrânia, Rússia, França e Alemanha. Decidiram que a região de Dombass, de maioria russa, seriam divididas duas regiões autônomas, pertencentes à Ucrânia. Este acordo não foi implementado até o momento.
            Embora a Rússia venha fornecendo maciçamente passaporte russos aos ucranianos de origem russa (nada estranho: eu como brasileiro posso pedir cidadania italiana, libanesa ou japonesa, devido minha ascendência), não existe nenhuma intenção ou interesse na anexação. Donbass é uma região agrícola, com terras muito férteis, porém sem muita infraestrutura industrial. A maioria dos grãos produzido se destina a própria Rússia e países europeus.
        Faria sentido o Brasil reivindicar parte do Paraguai habitado por sojicultores brasileiros? Há um boato que um movimento neste sentido já ocorreu, quando o Governo do Paraguai apertou o cerco para evitar contrabando de soja para o Brasil através da fronteira. Claro que o Brasil nem o Paraguai levou a sério! Hoje em dia os estados-nacionais perderam o domínio sobre o mercado a ponto de países inimigos entre si fazerem comércio livremente. Um incidente como entre o Brasil e a Bolívia em relação ao Acre não existiria mais hoje em dia.
A Crimeia é estratégica para o Rússia porque proporciona maior domínio sobre o Mar Negro. A Região de Donbass tem pouco interesse estratégico para a Rússia. Para os russos Donbass deve continuar Ucrânia. Até porque é uma garantia de pressão interna em favor dos interesses russos no país vizinho. Como por exemplo a resistência a um futuro ingresso na OTAN. Mesmo porque, de um modo geral, a população ucraniana e russo-ucraniana não são conflitantes.
        Os russos só invadirão a Ucrânia se for confirmado sua entrada na OTAN, ou que seja instalado alguma base militar em seu território. Neste caso a ocupação será medida em dias, senão horas. Não só pela diferença no poderio militar, mas também porque parte da população, neste caso, apoiaria a invasão. Se tropas da OTAN entrar em combate, suas bases correrão perigo de ataques, não só na Europa, mas em todo o mundo. Até nos EEUU!
Aqui entra outros atores na geopolítica. China e Taiwan. Embora a China não reconheça Taiwan como país, existem entre eles intensas relações comerciais. A estratégia da China com relação a região rebelde, não é tomá-la fisicamente em um primeiro momento, mas torná-la dependente economicamente. Até o dia em que os taiwaneses chegarem à conclusão que vale a pena fazer parte da China.
        Porém a China mantém com a Rússia uma parceria estratégico-militar. Não que o país asiático vá brigar com a OTAN na Europa. O bem provável que em caso se iniciar um conflito na Europa a China vá agir no sentido da anexação de Taiwan, deixando os americanos divididos em duas frentes.
Hoje Putin e Xi Jinping se reunirão na China para a abertura das olimpíadas de inverno. O líder chinês reiterou seu apoio incondicional à Rússia na crise com a OTAN e os EUA.
        Os russos afirmam que não aceitarão a expansão da OTAN um milímetro em direção ao seu território. Será que os americanos e europeus vão pagar para ver? Tudo indica que esta crise visa apenas fomentar a venda de armamentos para países do leste europeu. É mais uma grande batalha de Itararé!