domingo, 13 de março de 2022

O QUE SIGNIFICA A INTERVENÇÃO RUSSA NA UCRÂNIA PARA O MUNDO?

 



Nós, brasileiros, vivemos no hemisfério sul e no “Novo Continente”. Geograficamente estamos bem distantes do conflito. A maioria de nós não tem a menor noção do porquê desta guerra e do que está acontecendo por lá. Daqui temos uma visão longínqua e unilateral dos fatos. Porém, dentro do nosso país, posso dizer que eu tenho uma vista mais privilegiada dos fatos. Morei cinco anos em Moscou, conheci muitos ucranianos e já visitei Kiev e Lviv.

Quis o destino que eu realizasse meu sonho e infância. Sou pesquisador. Pesquiso tudo! Quero fazer proposições ousadas, com pequena margem de erro.

No xadrez geopolítico do século XXI, a Rússia foi OBRIGADA A INTERVIR NA UCRÂNIA! Outras opções seriam piores. Os países que antes formavam a URSS, atualmente considerados como “democracias burguesas”, e que hoje tem boas relações com a Rússia, vem sendo paulatinamente sabotados pelo Império, de modo que o governo Putin já teve que intervir na Bielorrússia, Armênia e, no ano passado, no Cazaquistão. De outra feita interveio na Síria, contra o Estado Islâmico, a favor do governo daquele país. Deixando os americanos com a broxa na mão.

Estudando um pouco melhor observei que a Europa Ocidental não é um território ocupado pelos Estados Unidos, através da OTAN, como parece. Na realidade, os Estados Unidos e a Europa Ocidental são territórios ocupado por uma organização marginal que podemos chamar de IMPÉRIO. No final do século passado o mundo passou a ser globalizado sob o comando deste Império, após a dissolução da União Soviética. A própria China Comunista parecia não se importar com o Império. Quem não se alinhasse era severamente punido. Com o novo século veio os BRICS, as “Novas Rotas da Seda”, a “parceria Estratégica Rússia/China” e muitos tratados e parcerias internacionais à margem do Império. O protagonismo asiático tornou-se claro. China, Índia e Rússia estão entre as dez maiores economias do mundo. A China hoje é o maior PIB pela paridade do poder de compra do mundo.

Vivenciamos hoje um grande jogo de xadrez em que o IMPÉRIO ECONÔMICO enfrenta as ECONOMIAS NÃO ALINHADAS. Nesta contenda não existe fronteiras nacionais. O primeiro defende a continuidade de uma economia global baseada no Dólar Americano. Já o segundo “jogador” defende a substituição da moeda americana. Porém nenhum dos lados atuam de forma monolítica. Dentro da Comunidade Europeia há quem defenda um maior protagonismo do Euro. China e Rússia possuem grandes reservas em Dólar. Caso a moeda americana entrar em colapso muitas empresas russas e chinesas terão dificuldades.

O Dólar que movimenta a economia do mundo praticamente sozinha desde a segunda guerra mundial hoje é como uma “cocaína” para a economia global. É um vício que vem corroendo as relações econômicas mundiais, de modo que só a emissão e entrada de mais Dólar em circulação alivia suas crises de abstinência. Até quando? Existe cura? Hoje um grande número de doutores em economia se debruça sobre isto, buscando respostas.

Porque não permitir o funcionamento do Nord Stream 2? Este novo gasoduto é mais estratégico para a Europa Ocidental do que para a Rússia. Os Russos já vendem para os chineses e coreanos. E até para o Japão. Enquanto isso 40% do gás consumido na Europa vem da Rússia. O Nord Stream 2 sai de São Petersburgo atravessa o Mar Báltico e Mar do Norte (eu pessoalmente já naveguei por estes mares) até chegar à Alemanha. O Nord Stream 1 (em operação) passa pela Polônia e Ucrânia. Os Russos ainda estão enviando e continuarão enviando gás à Europa Ocidental, desde que estes países não apoiem militarmente a Ucrânia. Porém a Ucrânia poderia fechar o gasoduto para forçar a entrada da OTAN na guerra caso não existisse o Nord Stream 2.

Hoje em dia não há como fazer uma guerra quente entre grandes potências. No momento utilizam-se um método chamado de “guerra híbrida”, onde vale de tudo, até pequenas guerras localizadas como na Ucrânia. Como foi na Síria e no Afeganistão. Guerras comerciais, boicotes, bloqueios comerciais, desinformações (fake News), chantagens, tudo faz parte da guerra híbrida.

Com relação especificamente sobre a Ucrânia, eu descobri que a Putin não tem interesse na rendição da Ucrânia. Quase todos os alvos militares foram destruídos nos primeiros dias da intervenção. O sistema de comunicação das forças armadas ucranianas foi destruído. Hoje os militares praticamente só se comunicam pela internet, obviamente monitorado pela inteligência do exército russo. Praticamente as forças armadas ucranianas foras desbaratadas. A guerra hoje está baseada no desbaratamento de milícias neonazistas como o Batalhão de Azov, entre outras. O que está na mira dos russos são estes grupos paramilitares neonazistas. A guerra se estenderá por vários meses, mesmo que o governo da Ucrânia se renda. A Rússia sabe disso. Putin foi bem claro: “desnazistificação da Ucrânia.”