domingo, 18 de agosto de 2019

O BRASIL PRECISA MESMO DESMATAR A AMAZÔNIA PARA AUMENTAR A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA?


Distribuição das áreas do Brasil em 2018.






            Eu poderia aproveitar que sou Engenheiro Agrônomo e trazer um monte de informações e conjecturas que seria de difícil entendimento para a maioria das pessoas. Mesmo para aquelas pessoas que tem conhecimento para acompanhar o raciocínio não seria muito ilustrativo. Para responder esta questão nada melhor que pegar alguns poucos dados do IBGE, condensado no gráfico-pizza acima e dar asas à imaginação.

            Afinal precisamos desmatar para aumentar nossa produção agropecuária? Será que não bastaria aumentar a produtividade agrícola e colocar mais gado no pasto? Quando nos informamos pelos órgãos convencionais de mídia percebemos uma guerra de informações. Pois bem!... Acompanhem meu raciocínio.

            Primeiramente acho que seria oportuno informar que a unidade internacional de medida de área para atividade agropecuária é o hectare (símbolo ha - unidade agrícola equivalente a 10.000 m² ou 0,01 km²). O Brasil, como nós aprendemos na escola, tem 8.513.000 km². Ou seja, mais de 850 milhões de hectares.

            Para facilitar os cálculos vamos supor que toda a área plantada no país fosse apenas milho e soja, nossos principais produtos de exportação. O milho tem potencial de produzir acima de dez mil quilogramas por hectares. A soja pode produzir mais de cinco mil quilos em área igual. Mas vamos considerar uma produtividade de 6.000 kg/ha para o milho e 3.500 kg/ha para a soja. Devido ao clima tropical é possível a produção de duas safras por ano. Isto significa que temos um potencial de produzir 9.500 kg/ha ao ano.

Acompanhe comigo! Na pizza acima observamos que 8,31% de toda área do nosso país são utilizadas para atividades agrícolas. Fazendo-se os cálculos encontramos 70.400.000 ha. Multiplicando por 9,5 toneladas chegamos 670 milhões de toneladas de grãos! Estima-se que o Brasil vá produzir 235 milhões de toneladas de grãos de 2019. É evidente que produzimos frutas, hortaliças, algodão, café e outros produtos, mas pode-se dizer que podemos pelo menos dobrar nossa produção agrícola sem derrubar uma só árvore.

            Agora vamos á pecuária. Precisamos produzir também mais carne para exportar, pois commodities é nossa principal pauta de exportação.

            Estima-se que Brasil possua 171 milhões de cabeças de gado, segundo Censo Agropecuário 2017 (IBGE). Estão espalhados em 17,7 % do território nacional ou pouco mais de cento e cinquenta milhões de hectares. Mesmo deixando o gado exclusivamente no pasto, sendo este bem formado, com sais minerais e uma boa fonte de água, podemos através de uma técnica chamada “pastejo rotacionado”, colocar três ou mais cabeças de gado por hectare.

            Pastejo rotacionado é uma técnica simples. Divida o pasto, por exemplo, em dez partes e cerque com arame liso (ou farpado). Cada parte se denomina “piquete”. Deixar o gado pastar em um piquete por três dias, depois passar para outro piquete. E assim por diante. Depois de um mês o gado volta ao primeiro piquete. Deste modo o gado pasta intensivamente uma área, que depois tem vinte e sete dias para se recuperar.

            Se, temos hoje em dia um rebanho de 170 milhões de cabeça de gado, podemos através de uma técnica simples ter a capacidade de suporte de 450 milhões de cabeças! Isto sem derrubar uma só árvore!

            É claro que quando generalizamos muito a margem de erro aumenta muito, mas por mais discrepante que seja os números com a realidade, podemos observar que ainda há uma grande margem de incremento na produtividade na atividade agropecuária, antes de pensarmos em desmatar a Amazônia.





Observação:

            Para ficar completo seria necessário fazer um estudo se há realmente necessidade de atividades madeireira na Amazônia. Até que ponto as áreas sob cultivo de eucalipto são insuficientes para produção de celulose para papel e carvão para siderurgia. Seria possível um aumento do uso de gás de petróleo em siderúrgicas em substituição ao carvão vegetal? Será que ainda é necessária a derrubada de grandes árvores para produção de móveis? Atualmente são raros os móveis de madeira maciça. Uma essência florestal cultivada pode ter seu tronco laminada em uma superfície bem maior que uma tábua oriunda de uma árvore milenar.

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