Eu estava
me preparando para escrever uma postagem para Carlos David e Eu
(htpp://carlosdavideeu.blogspot.com), quando me deparei com este excelente
artigo de Paulo Moreira Leite. A minha lógica era a seguinte: basta apenas 2%
dos filiados do PT doarem R$10,00 (menos que isso, é quase inviável) para pagar
as multas de todos os seus correligionários condenados na AP-470. Leia o que
diz o artigo:
"Só quem ainda não entendeu o que
está acontecendo com a ação penal 470 implica com as doações recebidas por Genoino
e Delúblo Soares.
Basta fazer uma conta de aritmética
simples para entender que são números compatíveis, por exemplo, com o número de
filiados ao PT. Eles somam 1,7 milhão de brasileiros. Em teoria, bastaria que
cada filiado doasse R$ 1 para que o total fosse atingido. Claro que não foi
isso o que ocorreu mas essa estimativa dá uma ideia do processo.
Sem que se tenha provado nenhuma
irregularidade nas arrecadações, a divulgação da (suspeita? denuncia? calunia?
mentira? ) sobre lavagem de dinheiro e os pedidos de investigação são apenas
tentativas de esconder um fato político de primeira ordem: a visão de muitos
brasileiros sobre o “maior julgamento da história” está mudando – e
rapidamente.
Em vez atender
ao grotesco pedido de Joaquim Barbosa, estes cidadãos mostram que os condenados
não serão punidos com o esquecimento. Pelo contrário. Tem gente que é capaz de
colocar a mão no bolso para dizer que serão lembrados.
O esforço para
criminalizar as doações é apenas uma tentativa de criminalizar um movimento
político legítimo e, do ponto de vista de muitas pessoas, necessário.
Não há nada de
novo aqui, quando recordamos qual era o sentido a ação penal 470: criminalizar
lideranças de um governo que, com todas as falhas e defeitos, mostrou-se capaz
de realizar diversas mudanças urgentes, de interesse da maioria da população.
O sinal novo,
que não se quer enxergar, encontra-se nas doações.
Abatidos,
derrotados e desmoralizados depois do julgamento, os eleitores de Lula, os
filiados ao PT, sindicalistas e milhares de cidadãos de convicções
democráticas mostram que não perderam a capacidade de incomodar-se diante de
uma injustiça cada vez mais visível.
Perderam o
medo de mostrar seu inconformismo.
É por isso que
as doações incomodam, quando deveriam ser celebradas.
Elas expressam uma força que nossos
vira-latas da sociologia barata tanto elogiam nos países desenvolvidos – a
presença, em nossa sociedade, de homens e mulheres que não se dobram nem se
submetem.
Já
vimos, inúmeras vezes, como essa capacidade de resistência tem importância em
nossa história. O processo está se repetindo, e a arrecadação é apenas um
sinal.
As doações mostram, essencialmente,
que cresce o número de pessoas convencidas de que tivemos um julgamento
injusto, partidarizado e contraditório. Não é para menos.
Está cada vez mais evidente que não
era possível impedir o desmembramento da ação penal 470 depois de garantir esse
direito aos réus do mensalão PSDB-MG.
A decisão de manter sob sigilo as provas reunidas nos 78
volumes do inquérito 2474, que pode ser acompanhada num vídeo disponível na
internet, mostra-se tão ilegítima como suspeita. Pergunta-se: se as provas da
acusação contra eram tão boas e tão consistentes, por que deveriam ficar
escondidas?
Além de serem
condenados por uma doutrina que dispensa provas individuais contra cada um dos
réus, como manda o Direito Penal, os réus agora enfrentam penas agravadas
artificialmente, apenas para garantir que eles ficassem submetidos a longas
temporadas sob regime fechado.
O voo de 15 de
novembro, a guerra de laudos médicos, a tensão fabricada contra prisioneiros do
AP 470 e os demais apenados, numa tentativa tosca de denunciar
“privilégios” que nunca se mostram, apenas demonstra um esforço para
desmoralizar os réus, e criar um estigma político para impedir e uma discussão
serena e necessária sobre o julgamento.
O ponto é
este. As pessoas que criminalizam as doações temem, acima de tudo, serem
criminalizadas pela própria consciência. Sabem que poderão ser cobrados pelo
silêncio, pela omissão, pela hipocrisia.
Mais uma vez,
e há uma ironia amarga, aqui, é a noção de que todos são inocentes até que se
prove o contrário que está em jogo aqui."
Paulo Moreira Leite - Isto É independente - 05/02/2014
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